Ao Gerente de RH da Petrobrás S.A
Técnico de Construção e Montagem - Diego Hernandez
c.c Gerente de Saúde da Petrobrás
Médico do Trabalho Sérgio Rossato
Ouvidor Geral da Petrobrás
Advogado Paulo Otto von Sperling
Senhores,
Hoje completo 12 dias morando em um ponto de ônibus a menos de 20 metros do portão principal da Refinaria Landulfo Alves Mataripe - RLAM. Foi o meio que encontrei de diluir minha angústia por medo de morrer em casa. Nos últimos dias que passei na minha residência, constatei indícios de desordem imunológica por falta de medicamentos, decidi vir morar em local bem público e no qual tenho a solidariedade de meus pares, os colegas da RLAM que sabem muito bem o que é sofrer de doença ocupacional.
Aqui me alimento, durmo e acordo cercada de carinho e solidariedade. Aqui começou minha história na Petrobras em 1 de abril de 1987. Os colegas da velha gurada não tardaram a organizar a melhor estrutura possível para minimizar meu sofrimento. Juntos decidimos que essa será minha morada até que essa demissão ilegal coberta de crueldade tenha fim.
Hoje já sou novamente parte do cenário. Me sinto em casa, recebo visitas das mais variadas, tanto do público RLAM como de moradores dos arredores, sem mencionar minha família que respeitou minha opção e está sempre ´presente.
Já estou perecebendo pela movimentação de vocês, que mesmo cientes de terem jogado sujo e errado, não estão dispostos a rever com humildade o crime que estão cometendo, mesmo sob pena de expor a imagem da nossa amada empresa. Lamento, pois creio que esse tensionamento tende a piorar a cada dia que passa.
Estou anexando fotografias para dar conhecimento do estado de recidiva da minha dermatite ocupacional. É muito injusto, tudo isso. Sou jovem, amo viver e sinto que estou marcada para morrer, vocês optaram por me aniquilar. Já sinto o peso da fadiga dos músculos doentes, já estou cheia de edemas, lesões, e como não sou ignorante no assunto, sei que minhas células de defesa, estão agindo acionadas pela memória que guardam desse ambiente. É uma guerra contra o antígeno, só que na tentativa de me defender, elas acabam me atacando.
Me colocaram em uma situação bastante estreita. Não posso ingressar na Justiça do Trabalho para não perder a condição de testemunhar isentamente na audiência da ACP do Ministério Público do Trabalho que versa sobre o Assédio Moral estratégico da Petrobrás. Sempre fui pelo coletivo, e jamais prejudicarei meus amados operários deixando-os sem meu testemunho.
Como podem ver, vocês de um lado não cedem me devolvendo o direito a vida, e eu do outro lado, nunca vou trair os trabalhadores, nem sob pena de pagar com a minha vida.
Hoje os colegas me ajudaram a comprar duas unidades de medicamento tópico para tentar driblar a doença. Esperamos com isso ganhar uma sobrevida nessa luta desigual.
A imprensa já começou a me enxergar, não quero palanque, mas se preciso for, deixarei que minha vida seja exposta como um laboratório no qual ficarei demonstrando na prática o que é trocar a força de trabalho, a saúde e a vida por migalhas do capital de uma empresa gigante e que deveria ser o espelho da Responsabilidade Social.
Trabalho para o estado, cuja carta cidadã garante a prevalência da vida, mas contraditóriamente estou me esvaindo aos poucos aos olhos da sociedade justamente por atentado desse estado contra a minha integridade física. Será mesmo que vocês acreditam que podem me matar impunemente? Estejam certos que terei como testemunha a sociedade. Homens de bem que cobraram o preço.
Solicito informar a Gerencia da UN-RLAM, sobre o conteúdo da carta.
Atenciosamente,
Edilene Farias de Oliveira
Fonte: Essa carta foi redigida por Leninha que há dias está na porta da Petrobrás, exigindo que seus direitos de pessoa humana seja respeitado, vítima de assédio moral na empresa em questão, foi demitida mesmo estando com problemas de saúde decorrentes do assédio moral que sofreu.Maiores informações sobre a situação visite o blog:
http://questaodedignidade.blogspot.com/2010/01/depoimento-de-leninha.html
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